33º Encontro Técnico AESabesp/Fenasan 2022: especialistas debatem contribuição dos ODS para o crescimento inclusivo e sustentável

Questões que precisam ser equacionadas e desafios para a redução das desigualdades e crescimento econômico inclusivo estiveram em pauta. Mesa foi moderada por Fábio Toreta, superintendente de Comunicação da Sabesp.
DESTAQUE-ODS

Os avanços e retrocessos no atendimento das metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) foram discutidos no último dia do 33º Encontro Técnico AESabesp/Fenasan 2022, o maior evento do saneamento ambiental da América Latina, nesta quinta-feira, 15 de setembro. Promovida pela Associação dos Engenheiros da Sabesp-AESabesp, esta edição aconteceu de forma presencial, no Expo Center Norte/SP, e online.

A mesa redonda “ODS contribuição para crescimento inclusivo e sustentável”, coordenada por Alzira Garcia, presidente da Associação dos Especialistas do Saneamento – AESAN, teve moderação de Fabio Toreta, superintendente de Comunicação da Sabesp, e participação de Nina Orlow, coordenadora do Movimento Nacional ODS-São Paulo, Scarlett Rodrigues, coordenadora de Projetos em Direitos Humanos no Instituto Ethos, e Maitê Leite, gerente de Água e Oceano e responsável pela plataforma de ações pela água e oceano do Pacto Global da ONU.

Na primeira fala, Nina trouxe um olhar da sociedade civil e falou da importância da integração dos objetivos. “Só alcançamos objetivos com parcerias. Precisamos de todos para alcançar as metas. Todos os envolvidos, principalmente gestores, como CEOs, prefeitos, todos precisam estar envolvidos nessa pauta”, alertou. Nina comentou também sobre a importância das metas. “Não basta só colocar em um relatório, precisamos fazer mais. E, para isso, a visão sistêmica é essencial. Não dá para buscar água de longe e prejudicar uma comunidade, por exemplo. Precisamos saber o que os outros estão fazendo, com um olhar amplo. Comprometimento e conscientização precisam ser em âmbito global, nacional, regional, local e pessoal. Sem entender as dores do outro e fazer nossa parte, não vamos avançar. Não adianta um gestor não colocar seu propósito, sua aspiração, seus objetivos e os eixos de atuação”, alertou. “É um prazer falar sobre os ODS porque a AESabesp é signatária conosco, tem buscado aplicar a Agenda 2030 em todas as suas iniciativas, mas, claro, podemos avançar mais para que nós, humanidade, não sejamos extintos. Para isso temos que fazer nossa lição de casa, na área pessoal, na participação local, cobrar dos nossos governantes, e saber o que ocorre no resto do planeta, para que exemplos sirvam de inspiração para se aplicar aqui”, ressaltou Nina, ao final.

Scarlett trouxe as provocações da área dos direitos humanos. “O acesso ao saneamento e à água potável é um direito. Ninguém vive bem sem água, com um lixão na porta, e esse direito tem sido negado a muitos grupos. Hoje, 36,6 milhões de pessoas no Brasil não acessam água potável, 45% não têm tratamento de esgoto. Imagina conviver com isso, como impacta na saúde, na educação, no trabalho. Precisamos refletir como um direito básico violado perpetua outros direitos negados”, pontuou. Ela também lamentou como a discussão ambiental ainda fica apenas no âmbito técnico. “Precisamos trazer para uma forma mais acessível à população. Essa falta de acesso a direitos básicos prejudica muito mais as mulheres, por exemplo. Os eventos climáticos extremos impactam mais os moradores da periferia. Não é tema de agenda ambiental apenas, é tema de direitos humanos, de integridade, e o debate precisa estar intrínseco a todas as agendas. Precisa ser olhado de forma transversal porque impacta na saúde, na economia, em todas as áreas. Alguns direitos se sobrepõem a outros, e não deveria ser assim. Precisamos transversalizar. Não podemos falar dessa agenda de forma elitista, precisa ser acessível. Isso precisa chegar na população, na periferia, sem termos técnicos. Na ponta, ela é impactada pelo que fazemos e pelo que não fazemos. Transversalizar a pauta com o setor dos direitos humanos é essencial. São vidas que estão em jogo”, sugeriu.

Ao final, Scarlett trouxe pontos a se pensar pelas empresas. “Compromissos globais, universalização dos direitos, mudança de cultura para dialogar com o entorno, aprimoramento das relações público-privadas, governança, planejamento, fiscalização e controle social. É trazer a pauta global para nosso cotidiano e trabalhar de forma coletiva, garantindo mais representatividade dos grupos afetados para que eles possam participar dos espaços de tomada das decisões, saindo de uma bolha elitista”, apresentou. “A principal reflexão que fica desta mesa é pensar os ODS de forma diferente, transversal, e uma lição de casa, que é a de que todos têm a responsabilidade de fazer a transformação que queremos ver. Repensar, rever nossos conceitos, tanto empresas quanto sociedade civil e nós, indivíduos, também fazemos parte dessa mudança, puxando a agenda para nosso dia a dia”, completou.

Para Maitê, o debate precisa ser ampliado. “É fundamental romper a bolha. Estão aqui hoje pessoas que já acreditam na causa. Como falar para fora? Como levar para as comunidades, para o público geral, para quem ainda não foi impactado pela importância da sustentabilidade e, principalmente, para os tomadores de decisão. Entender onde estamos e para onde queremos ir, e que as empresas são parte da transformação, é essencial. Todos os ODS se conversam, não são caixas separadas. São uma lista de tarefas, mas se impactam entre si. Saneamento, por exemplo, é direitos humanos, é educação”, frisou. Ela também comentou a importância de envolver os tomadores de decisão nas ações. “Como fazer com que quem está com a caneta na mão, um decisor, envolva toda a comunidade nas tomadas de decisão? Como traduzir tudo isso para os tomadores de decisão é importante. Precisamos sensibilizar o dinheiro. Tem a ver com os ganhos de quem se preocupa com isso e, principalmente, as perdas de quem não se preocupa. Os modelos de negócio precisam estar nessa discussão. Sem um ambiente saudável não dá para pensar em desenvolvimento. Não vai ter lucro se não tiver água para as pessoas. É trabalhar de forma integrada, com visão de longo prazo. E temos as ferramentas para isso”, analisou. “Acho imprescindível discutirmos a importância do saneamento para todos os ODS, no geral, e de como ele ajuda a avançar, numa perspectiva socioambiental, o Brasil como um todo. Nosso país tem uma carência grande de investimentos em infraestrutura e de inclusão das pessoas mais vulneráveis nas políticas públicas e na lógica empresarial. Mas vemos assistindo um amadurecimento nessa discussão e, eventos como a Fenasan, mostram isso”, elogiou Maitê.

Ao final, Toreta comemorou o sucesso do encontro. “Uma oportunidade especial, com excelentes colaborações, tentando encontrar caminhos. O saneamento é um setor importante, mas conseguimos passar a discussão por vários outros ODS, demonstrando como o setor ajuda os demais. Falamos de empoderamento feminino, de redução de desigualdades, e são assuntos ligados. A despoluição do Rio Pinheiros, por exemplo, quando se fala nele, olhamos apenas pelo aspecto do rio, mas ele abrange muito mais. São 650 mil famílias que passam a ter tratamento de esgoto com a medida. Uma mãe tem mais saúde para os filhos, isso gera mais ganhos até para a economia. Nosso desafio, portanto, é a comunicação, porque quando se fala parece algo restrito ao setor de meio ambiente, mas o impacto está em vários setores e com ganhos, principalmente, para a população com maior vulnerabilidade”, detalhou. “É muito bom trazer o tema ODS para a Fenasan. É um tema que nós, do setor de saneamento, estamos sendo cobrados, pela sociedade para darmos mais visibilidade às ações, ao nosso pacto pelos ODS. Então, trazer pessoas que pensam sobre e trabalham com isso, em diferentes organizações, vem para enriquecer a nossa compreensão de como funcionam esses objetivos, e como podemos melhorá-los. É muito bom para o setor de saneamento, que tem como foco o ODS 6, compreender o impacto que gera a ampliação dos serviços de saneamento nos outros ODS”, finalizou o moderador.

33º Encontro Técnico/Fenasan 2022

Promovida pela Associação dos Engenheiros da Sabesp – AESabesp, esta edição teve como tema “Saneamento: prioridade para a vida” e reuniu especialistas do saneamento em 12 mesas redondas e 8 painéis de discussão. Nos três dias do evento, mais de 100 especialistas apresentaram cases, trabalhos técnicos e novidades para o setor.

Para saber mais, acesse aqui.

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