Lixo digital já é mais de 50% dos dados armazenados no mundo e impacta diretamente o meio ambiente

Mais de 6,4 milhões de toneladas de CO2 foram lançadas na atmosfera somente em 2020 por causa dos resíduos digitais
dcd37fba-a457-4c51-a8bc-609cd8aa4046

Este texto integra a edição especial Raio X dos Resíduos Sólidos no Brasil, da Revista Saneas. Acesse em https://www.saneasonline.com.br/edicoes/edicao-84-raio-x-dos-residuos-solidos-no-brasil/

Ao lado do desenvolvimento tecnológico e o do grande número de dados gerados a todo tempo, um novo problema ambiental se avista. Engana-se quem pensa que o lixo digital não causa transtornos no mundo real. Aqueles e-mails que enchem caixas de entradas há décadas e provavelmente nunca mais serão reabertos não são tão inofensivos assim. 

“Resíduos digitais são justamente mensagens, páginas da Internet, blogs, tudo o que ocupa lugar em algum computador, em algum local do mundo. Isso fica armazenado na nuvem, mas essa nuvem existe e é um computador, que está armazenando as informações”, explica o biólogo, mestre em ecologia e doutor em educação Edson Grandisoli. 

O grande problema é que essas máquinas precisam de muita energia para se manterem em funcionamento, o que impacta diretamente no meio ambiente. Segundo levantamento da Veritas Tecnologia, de 50% a 55% dos dados armazenados hoje são lixo digital, responsável por 6,4 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) lançadas na atmosfera somente em 2020.

Segundo Grandisoli, que também é coordenador pedagógico do Movimento Circular, os computadores acabam gastando energia desnecessária 24 horas por dia. “O que era físico e gerava lixo, como o papel, está sendo trocado por outro tipo de desafio. Estamos falando de uma energia globalizada. Muitos países ainda usam óleo diesel e carvão em termoelétricas, e toda essa queima libera gases de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global e mudanças climáticas”, aponta o professor.

O dano não para por aí, já que os enormes servidores, com terabytes espalhados pelo planeta, também dependem da água, pois são necessários líquidos para sua refrigeração. Sem falar nos resíduos eletrônicos, equipamentos que rapidamente se tornam obsoletos e são trocados, criando outra gama de materiais que deve ser corretamente destinada. 

Higiene digital deve ser incorporada ao dia a dia

A estimativa é que a quantidade de dados guardados no globo seja quatro vezes maior em 2025, saltando de 33 Zettabytes (ZB), em 2018, para 175 ZB. Porém, mudanças de comportamento podem beneficiar todo esse ecossistema ao redor dos grandes computadores e diminuir esse número. É o caso da higiene digital, hábito de periodicamente apagar e-mails, fotos, e-book e todos os arquivos que não são mais úteis. 

É uma espécie de “desapego”, que precisa ser praticado o quanto antes, de acordo com Grandisoli. Afinal, dados do Instituto McKinsey comprovam que quem mais contribui para a emissão de gases de efeito estufa são os usuários comuns. Notebooks, tablets, smartphones e impressoras emitem até duas vezes mais carbono do que os escritórios de empresas. 

A boa notícia é que a solução é fácil e nada complicada: basta imaginar a nuvem como um armário cheio que precisa ser esvaziado de tempos em tempos, como explica o professor: “É fundamental ter essa visão e se desapegar. Além de apagar, é só copiar dados importantes para HDs externos, que mantêm os dados fisicamente armazenados sem o impacto do ponto de vista de energia. Há caminhos, e eles são simples”.